sábado, 30 de maio de 2009

Memórias arcade: as friorentas bonecas quentes do Pocket Gal



Descobrimos este jogo num café, durante umas férias perto do Gerês, quando tínhamos 9 ou 10 anos (eu e os meus grandes amigos P. e C.). É um jogo de snooker em que as bonecas se despem conforme a perícia do jogador. Um resultado medíocre vale bikini. Um high score vale nudez e uma coroa de champion (a recompensa mais importante, claro). O nome é “Pocket Gal” e ainda se aguenta como simulador de snooker.

Trouxe-o até aqui porque está associado a uma das minhas primeiras tentativas de interpretar a língua japonesa. Quando ficavam nuas (conforme ilustrado), as bonecas diziam qualquer coisa em japonês, que bem podia ser:”És o maior e quero-te.” ou “Vamos aproveitar a mesa de snooker. Eh eh.” Não sei bem quem se lembrou disto, mas nós, com aquela idade, achámos que diziam:”Tenho frio.” Voltámos para a carrinha dos meus pais e durante uma hora só repetíamos “Tenho frio.” numa conspiração de putos parvos que tinham acabado de despir um monte de pixéis.

O fim dos dias da bolinha




Com luta-livre americana em canal aberto de manhã e o “American Pie” (ou pior) a passar sem problema nas tardes de sábado ou domingo, acho que faz cada vez menos sentido ter a bolinha vermelha nos filmes transmitidos depois das 23. A “susceptibilidade” é um conceito ultrapassado na era do You Tube e da livre pornografia. Deixou de haver aquela excitação de colheita 1987 que acelerava o coração dos putos que espreitavam 5 minutos de um filme do Brian de Palma ou do Abel Ferrara (ou um “Império dos Sentidos”, no caso dos mais aventureiros).

Posto isto, parece-me estúpido que a versão colorida do “Há Festa Na Aldeia” / “Jour de Fête” do Tati seja precedida do aviso para “sensibilidades” e tenha a bolinha vermelha no canto superior direito. É intrigante pensar em que critérios levaram a este lapso. O filme, que conta as desventuras de um carteiro que tenta fazer as coisas à moda moderna americana, é perfeitamente familiar, carregado de slapstick ingénuo e passaria completamente insuspeito numa manhã de Natal. A bolinha é quase incómoda. Porquê? Um feirante engana os seus clientes e o carteiro bate com a cara numas quantas madeiras. Nem sequer há nudez…

Provavelmente, a bolinha deve-se ao facto do filme ser anunciado como a versão experimental e colorida do original a preto-e-branco. Ou seja, o experimental é, por defeito, classificado para maiores de 18 anos e capaz de ferir sensibilidades (com aquelas cores berrantes, não vou dormir esta noite…). A programação da RTP2 merece o meu maior respeito, mas esta bolinha só pode ser equívoco ou resultado de liberdades por parte de quem vive ainda em 1987. Está convidado para vir à casa do Panda ver os melhores thrillers de De Palma e Ferrara.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Kimya adora-me




Só havia uma t-shirt de Kimya Dawson à venda e eu perguntei ao marido dela pelo modelo de que mais gostava:”I Spooned Kimya Dawson”. O significado do verbo “to spoon” pode ser consultado no Urban Dictionary e essa informação é essencial para o post.

O Angelo disse-me que já não tinham mais dessas e deixou escapar qualquer coisa como:

Well… It’s been a few years, you know?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Fantasia para “In the New Year” dos Walkmen

Engravatámo-nos nessa noite para estar à altura da ocasião. Desta vez, desde que sejamos um só, eu nem sequer me importo de não entender os rodapés noticiosos e de não receber felicitações ocidentais no meu telemóvel de pedra. Ensurdecidos pelo ruído das máquinas de pachinko, estes dias aguçaram a nossa telepatia. E eu gosto de ti como o Arnaldo gostava da Rita Lee. É por isso que guardo no bolso este anel que comprei na Toys r’ Us. O DJ ditará a hora certa. Para já, sei que é verdade. Vai ser um ano do caralho.

Clássico Local III

Muito raramente, tenho a sorte de contar com a companhia do M., localmente conhecido por uma juventude de algum excesso e violência interrompida a partir do momento em que encontrou Jesus. Entre as conversas úteis à ocupação do dia, que somos obrigados a passar juntos, o M. referia entusiasmado que haveria de escrever um livro sobre teologia quando tivesse oportunidade. Gesticulava e dedicava mais umas quantas considerações ao lugar da fé na actualidade. Minutos depois, calou-se e voltou à leitura do primeiro “Harry Potter”.

domingo, 17 de maio de 2009

Fantasia para “How to Disappear Completely” de Radiohead

Depois de te ter amolgado a prata dos brincos, com uma dentada que desonra quem tos ofereceu, só me lembro de ter oferecido umas pastilhas Guronsan a uns rufias e de estar perto de nos incriminar numa operação Stop em Monsanto. Disseste-me que quase fui espancado por quem não tinha a mínima pachorra para a minha generosidade Guronsan. Seria um tremendo cliché dar por mim espancado na noite do Bairro Alto e acordar com o meu peso, altura e cor do cabelo impresso no Correio da Manhã.

As câmaras de vigilância do Metro sabem de como a noite desabou em mim. Na tentativa de ser o mais low-profile possível, alguém ressacado denuncia sempre o high-profile da noite anterior. Deixa-me lamber o cimento sujo desta estação com bílis e restos de um jantar irreconhecível. Não estou aqui. Isto não está a acontecer.

sábado, 16 de maio de 2009

Huevos de oro



A capa convenceu-nos e assim arriscámos um aluguer irreflectido no videoclube do MEO. O elenco até era apelativo: Javier Bardem, Maribel Verdú, Maria de Medeiros e um iniciado Benicio del Toro (anunciado como Benisio del Toro). Rever toda esta gente em 1993 é um pouco mais doloroso do que parece à partida.

As referências que tenho do cinema espanhol extra-Almodóvar também não são as melhores. Nos antípodas de um “Vicky Cristina Barcelona” igualmente deslumbrado com o alcance dramático do “ménage à trois”, “Huevos de Oro” (“Tomates de Ouro” em português) mostra a “ascensão e queda” de um construtor civil com uma obsessão por Salvador Dali e pouca paciência para escutar mulheres faladoras. Sim, e depois? No tempo recorde de 88 minutos, o filme monta e desmonta quatro relações do protagonista (e respectivas encornadelas-satélite), passa por três continentes, mata e atrofia personagens e alterna entre cenas de sexo e circunstâncias sociais como quem ensanduicha queijo e fiambre sem pensar na qualidade do pão. Tudo às três pancadas. Fraca forma de dançar o flamenco da narrativa.

Pior. O filme garante a Javier Bardem a oportunidade de conhecer de perto quatro latinas 5 estrelas (Maria de Medeiros vê o azul do céu num terraço luxuoso) e, no fim, tem a lata de reclamar a piedade do público, que deveria chorar com o construtor impotente, quando este mergulha em decadência, ao dar por si sem dinheiro e sem a fidelidade de uma dançarina explosiva que foi para a cama com o jardineiro. Os espanhóis abusam da boa vontade. Eles são experimentais.

domingo, 10 de maio de 2009

Fantasia para "Your Wedding" de (smog)

O desastre amanha-se com duas Caipirinhas de entrada. Vinho à refeição. Um digestivo à escolha do amigo. Mais tarde, alterna-se entre gin tónicos e black russians com a cegueira de uma besta que partiu para a porrada quando viu a sua cara-metade ser desonrada pelas palavras de uma besta maior. Tromba completamente deformada. Corpo preso a uma cadeira tosca. Ninguém a quem enviar uma sms de socorro porque todos estão no casamento.

Sem me ter apercebido disso, alguém acabou de me salvar a vida ao roubar a chave do carro que trazia no bolso.

Algumas pessoas parecem-se mais com dinossauros feios a cada cigarro que fumam. Putos tão ou mais obesos que eu passam a tarde com a cara mergulhada na Lampreia de Ovos. As cascas de marisco amontoadas provocam-me náuseas.

Estou a dois copos de transformar esta merda num velório.

Vou estar bêbado, completamente bêbado no teu casamento.

sábado, 9 de maio de 2009

Uma canção bilingue de Kimya Dawson.



Acho muito bonito.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Inédito em Oeiras

Enquanto jogava PES com um estranho num lugar muito frequentado, um segurança advertiu-me para o facto de ter um bocado do rabo À mostra, muito provavelmente por queixa de uma rapariga púdica que me tinha avisado do mesmo minutos antes.

OK. Desamparem-me a loja e deixem o meu Barcelona jogar À bola. Ajeitei o resgardo e fiquei a pensar:"Fosse uma gaja completamente boa e o segurança ainda me pedia para baixar a alça."