sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O rabo atraente como símbolo de desorientação no cinema

Existe um princípio de padrão que une três dos rabos mais vistosos alguma vez surgidos no cinema: Brigite Bardot, em “Le Mépris” (1963), Scarlett Johansson, em “Lost In Translation” (2003) e Paz de La Huerta, no último filme de Jarmusch “The Limits of Control” (2008). Todos proporcionam uma noção de desorientação a filmes centrados num personagem masculino que transita numa viagem / missão de descoberta.

O padrão vai além disso: o rabo de Paz de la Huerta, em “The Limits of Control”, tem um impacto semelhante ao de Bardot no filme de Godard, na medida em que surge como um golpe perfeitamente frontal pronto a cortar a respiração. São quase armadilhas de magnetismo que desviam a atenção da sua meta. Durante alguns segundos, somos levados a crer que a inabalável contenção do protagonista zen de “The Limits of Control” pode finalmente estar sob risco quando se depara com a divinal Paz de la Huerta deitada de barriga para baixo sobre a cama e envergando uns óculos de massa que também contribuem para o cenário de tentação (“óculos de massa como símbolo de desorientação” num próximo post).



Em paralelo, quem assiste à cena pode até deixar cair o raciocínio (ou o esforço de tentar entrar no filme como se este fosse um estereograma) quando o bonito rabo passa a ser um estrondo visual no progresso da intriga. É suficientemente difícil manter a atenção durante um exercício que chega a ser tão chato e pretensioso como “The Limits of Control”, mas a inserção estratégica de Paz de la Huerta dificulta ainda mais a tarefa do homem com a missão, tal como a de quem vê.



Envolvido num labirinto de poder e batalha pela soberania de autor sobre uma obra, Paul Javal (interpretado por Michel Piccoli) encontra-se sujeito a uma tarefa que nem o próprio Hércules superaria: ter de conjugar a pressão de ser um argumentista criativamente esmagado pelos poderes cimeiros do cinema com a árdua tarefa de ter lidar com uma esposa de alta manutenção, caprichosa e volátil ao ponto de progredir socialmente completamente alheia ao sofrimento do marido, que, inversamente, mergulha numa situação de impotência. Ao contrário do que canta o rapper Jay-Z em “99 Problems”, Paul Javal “got 99 problems and the bitch is one”. E poucas protagonistas no cinema de Nova Vaga chegarão aos calcanhares de Camille Javal como perfeita bitch, quase próxima de uma das sereias que canta na “Odisseia” de Homero (a obra adaptada em “Le Mépris”). Surgido mais do que uma vez no filme, o incomparável rabo “vintage” de Bardot marca, a partir de certa altura e através da sua presença erótica, o compasso de uma queda em espiral que leva o argumentista (note-se como persegue verticalmente Camile quando se encontram em Capri) até ao ponto de perder a sua mulher para o produtor americano.



O caso de Scarlett Johansson, em “Lost in Translation” será provavelmente o mais célebre e evidente (foi transformado em ícone entretanto). Antes mesmo de evoluir na improvável relação romântica entre Charlotte e Bob, Sofia Coppola decidiu mostrar o monumental rabo da protagonista feminina (exposto com transparência mais do que suficiente) logo no plano inicial. A partir daí, Bob Harris, figura aprisionada num estranho esquema publicitário (entregue ao uísqui Suntory), evade-se da vida de emigrante-objecto para mergulhar num affair que pode bem ter gerado algumas questões acerca do casamento (tremido) e rotina familiar vivida em casa (do outro lado do mundo). Volta a ser um rabo a destabilizar os dias de alguém com notórias dificuldades em adaptar-se a um meio hostil (num país onde a disciplina é um traço cultural). De todas as dificuldades de comunicação vividas por um norte-americano em Tóquio, a que separa Bob Harris daquele rabo será certamente a mais difícil de ultrapassar. Ele, que até fala com o velhinho por gestos, acaba por aceitar que a comunicação com Charlotte terminava ali, naquele segredo.

2 comentários:

spider_seni disse...

http://i39.tinypic.com/20kyonm.jpg

http://cdn.idontlikeyouinthatway.com//pictures/20080417/brigitte%20bardot%20nude%202/t/brigitte%20bargot%20nude%206thumb.jpg


apesar disto, para mim, ganha a scarlett..

Ron disse...

Obrigado pelo relatório de investigação, que complementa o post, embora a segunda não me pareça a Bardot.

Muito sinceramente, para mim, ganham as três, mas acho que o da Scarlett é o mais "in your face" e aquele que merece a maior adoração do mundo.