sábado, 30 de maio de 2009

O fim dos dias da bolinha




Com luta-livre americana em canal aberto de manhã e o “American Pie” (ou pior) a passar sem problema nas tardes de sábado ou domingo, acho que faz cada vez menos sentido ter a bolinha vermelha nos filmes transmitidos depois das 23. A “susceptibilidade” é um conceito ultrapassado na era do You Tube e da livre pornografia. Deixou de haver aquela excitação de colheita 1987 que acelerava o coração dos putos que espreitavam 5 minutos de um filme do Brian de Palma ou do Abel Ferrara (ou um “Império dos Sentidos”, no caso dos mais aventureiros).

Posto isto, parece-me estúpido que a versão colorida do “Há Festa Na Aldeia” / “Jour de Fête” do Tati seja precedida do aviso para “sensibilidades” e tenha a bolinha vermelha no canto superior direito. É intrigante pensar em que critérios levaram a este lapso. O filme, que conta as desventuras de um carteiro que tenta fazer as coisas à moda moderna americana, é perfeitamente familiar, carregado de slapstick ingénuo e passaria completamente insuspeito numa manhã de Natal. A bolinha é quase incómoda. Porquê? Um feirante engana os seus clientes e o carteiro bate com a cara numas quantas madeiras. Nem sequer há nudez…

Provavelmente, a bolinha deve-se ao facto do filme ser anunciado como a versão experimental e colorida do original a preto-e-branco. Ou seja, o experimental é, por defeito, classificado para maiores de 18 anos e capaz de ferir sensibilidades (com aquelas cores berrantes, não vou dormir esta noite…). A programação da RTP2 merece o meu maior respeito, mas esta bolinha só pode ser equívoco ou resultado de liberdades por parte de quem vive ainda em 1987. Está convidado para vir à casa do Panda ver os melhores thrillers de De Palma e Ferrara.

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